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Casa de parente

  • Foto do escritor: Manoel Roberto Seabra Pereira
    Manoel Roberto Seabra Pereira
  • 12 de out.
  • 4 min de leitura

Beto Seabra 12/10/2025


Houve um tempo em que o turismo era uma atividade mais simples e mais barata. Se um grupo de amigos, por exemplo, quisesse conhecer uma cidade do Nordeste, conseguia um lugar para ficar – em geral a casa do parente de um deles – e ia de carro ou ônibus. Avião, quase nunca, a não ser que as famílias fossem ricas, pois viajar de avião naqueles tempos era algo caríssimo.


Chegavam e acampavam na “casa do parente”, causando algum incômodo, mas nem tanto, pois antigamente (ou talvez quando éramos mais jovens?) as pessoas eram mais tolerantes para desconfortos. Depois era só curtir, tirar fotos - contadas, nas maquininhas com filme de no máximo 36 poses - e pedir que o pai ou a mãe ligasse depois ao parente para pedir desculpa pelo incômodo e agradecer a acolhida. Era sempre assim.


Minha tia Madalena, que morou em Boa Viagem muitos anos, me disse que certa vez chegou a contar dezesseis hóspedes no seu apartamento, incluindo parentes ou amigos de parentes. Era uma farra. Mas também algum sofrimento, claro, em especial na hora de usar o banheiro. Digamos que era um pequeno hostel familiar, onde todos se conheciam e se aguentavam.


Lembrei desses perrengues na viagem que fiz em setembro com a Rosana pelo Nordeste durante um mês, para fugir da seca do Centro Oeste. Na crônica passada falei sobre Sergipe. Agora chegou a vez de falar de Alagoas e Pernambuco, este último estado que foi ponto de partida e chegada da viagem. É que depois de algumas férias ficando em hotéis e pousadas, dessa vez decidimos ficar em casas de parentes, pelo menos nesses dois estados onde temos familiares próximos.



Vista da Praia de Ponta Verde, em Maceió
Vista da Praia de Ponta Verde, em Maceió

E quando estávamos em Maceió recordei uma viagem que fiz com os amigos Marcus Vinicius, Paulo Rossi e Zé Eduardo Brandão, em janeiro de 1988. Éramos quatro e dividíamos tudo: da gasolina à cerveja, passando também pela comida. Caixa único!, era o mantra repetido. O que nos obrigava a beber sempre, para não ficar no prejuízo. Enquanto passeava pela praia de Ponta Verde e via aquele mar azul da capital alagoana, me veio à lembrança aquele passeio repleto de boas lembranças e algumas dificuldades, que, vistas hoje apenas tornam a viagem mais saudosa.


Passados 38 anos (caramba!), Alagoas ganhou outra dimensão na minha vida. Maceió virou parada obrigatória, uma vez que a minha mãe, Maria Betânia, aos 76 anos, decidiu se casar novamente depois de uma longa viuvez e lá morar. E casou-se com um primo também viúvo, o Marcos Seabra. É uma história muito bonita que merece outra crônica, mas por enquanto basta dizer que retomamos aquele antigo costume de viajar para o Nordeste e ficar em casas de parentes. Nesse caso, mais que parentes. E Betânia e Marcos não apenas gostam como sabem receber. Os perrengues ficaram para trás e hoje é só conforto!


Citando Martinho da Vila, caminhamos ainda um pouco mais e nos deparamos com lindos coqueirais. Mas, ao contrário da música, não estamos falando do Ceará, terra de outros belos passeios do passado, mas de Itapuama, praia paradisíaca de Pernambuco, habitada por surfistas e gente local. E, entre os locais, dois tios meus, o José e o Geraldo Seabra. Por algum tempo o lugarejo teve a maior concentração de seabras no Brasil por quilômetro quadrado!



Praia de Itapuama, Pernambuco
Praia de Itapuama, Pernambuco

Itapuama está espremida entre praias mais famosas, como Paiva e Gaibu, mas talvez justamente por isso tenha um charme diferente. É daquelas praias onde se conhece todo mundo, do dono da barraca à mulher da tapioca, e onde o silêncio só é quebrado pelo forte barulho das ondas. Itapuama não é para quem tem medo de mar bravio.


Lá ficamos por duas semanas na casa de Geraldo, o tio Géo. Foram quatorze dias vivendo como se fossemos locais, convivendo com o dia-a-dia das pessoas do lugar, indo na padaria e no mercadinho locais, e conversando e ouvindo as histórias daqueles moradores. "Quem bebe da água de Itapuama sempre volta", me disse um deles. Pretendemos voltar.


Mas era preciso ir a Recife, matar a saudade das pessoas. E o lugar marcado para isso foi a casa em Aldeia onde moram meu outro tio, Giovanni, e Claudia, sua esposa. O lugar é um condomínio formado por uma imensa floresta secundária, replantada onde antes era apenas pasto de boi. Lá parecemos imersos na Mata Atlântica que existiu naquela região em séculos passados. E lá encontrei a tia que faltava, Maria de Fátima, a Fau, que considero minha irmã, pois crescemos juntos naquela longínqua Brasília dos anos 60 e 70. Matar a saudade a seco não dá. Então comemos e conversamos na companhia da melhor cachaça da região, Aldeia, produzida por Vanni em barris de carvalho e umburana.


Para encerrar a viagem ao Nordeste, dois passeios que recomendo. O primeiro foi apresentar a Rosana a praia de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, onde a tia Lena mora hoje. Não me lembrava de que o lugar era tão bonito, com sua areia repleta de conchas e búzios e um mar tranquilo e bom para banho, e sem os tubarões de outras praias vizinhas. Passamos dois dias com a minha tia, almoçando a deliciosa comida de sua cozinheira, a Rosinha, e rindo das histórias familiares.




Paço do Frevo, no Recife Antigo
Paço do Frevo, no Recife Antigo

E o bota-fora, como disse a professora Vanusa, outra que conheci em Itapuama, na companhia de Geraldo, foi no Recife Antigo, um lugar que reúne boemia, boa música e um cenário inesquecível.


Fomos na companhia de Edson Barreto, primo da minha mãe, mas que pela jovialidade eu trato como primo meu, e sua namorada Nize, adorável torcedora do Santa Cruz, tal como o meu tio Géo. Durante a nossa estadia em Pernambuco, o Santinha subiu da série D para a série C do Brasileirão. Pense numa torcida aguerrida e apaixonada, que não abandona o time nunca?! É a torcida do Santa Cruz.


Barreto, como é chamado por todos, também nos chamou para pousarmos uma noite em seu aconchegante apartamento em Boa Viagem, completando o ciclo "Casa de Parente" dessas férias inesquecíveis que duraram quatro semanas. Esse passeio me mostrou que é possível ter as delícias da cidade grande (Recife), o ar puro das montanhas (Aldeia) e a brisa marítima (Itapuama) em uma geografia única. Salve, Pernambuco!



 
 
 

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