Saruês
- Manoel Roberto Seabra Pereira
- há 1 hora
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Beto Seabra - 09/05/24

Circula nos grupos digitais um simpático texto sobre os saruês. Para quem não sabe, não custa reforçar. Saruês não são roedores, mas marsupiais. São parentes dos gambás e dos cangurus. Mas, além de não cheirarem mal e não saírem por aí dando socos nos outros, eles ainda fazem o favor de comer escorpiões e outras pragas.
Além disso, esse marsupial do cerrado é capaz de suportar mordidas de cascavéis ou cobras coral. O texto que recebi afirma, em primeira pessoa: “Graças a mim, existe um antídoto para o veneno de cobras. Eu como lacraias e carrapatos como se fossem batatas fritas. Não estou com raiva. Eu sou teu amigo”.
Nessa época do ano eles estão por toda parte, e para isso serve o alerta. A alma bondosa que o escreveu lembra que as fêmeas saruês tiveram seus filhotes nessa época do ano e que, portanto, elas estão mais lentas, pois carregam seus saruêzinhos em suas bolsas, como a mamãe canguru também faz. E pede que as pessoas tenham paciência, que deixem elas e eles atravessarem calmamente as ruas de Brasília.
E se por acaso algum saruê entrar na sua casa, chame a polícia ambiental, nada de veneno, ratoeira ou vassoura assassina. Quanto mais saruês no mundo, menos escorpiões, carrapatos e outras praguinhas. A conta é mesmo simples assim.
Ratazanas no Planalto
Quando eu era criança não tinha muitos saruês na cidade. Havia, sim, muitas ratazanas. No final dos anos 1970 a quadra onde eu morava na Asa Norte ficou infestada por roedores. Era a já legendária SQN 312. Tanto que os moradores decidiram por conta própria combater a praga com pedras e estilingues, já que o governo do Distrito Federal, ocupado na época por um governador biônico, e militar, não dava conta do recado. Foi só juntarmos no centro da quadra uma montanha de ratos mortos e chamarmos a imprensa para fazer o registro jornalístico, que dias depois o GDF apareceu para tentar acabar com a praga.
Imagino então que naqueles longínquos anos setenta os saruês estivessem tranquilamente em seu habitat natural, ou seja, o cerrado, que ainda era gigantesco. Hoje o cerrado perdeu mais de um terço do seu tamanho e parte da fauna precisou migrar para as cidades, em especial saruês, carcarás e capivaras. Mas também migraram muitos passarinhos. E também vejo mais canários-da-terra do que pardais, mais joões-de-barro do que pombos. Os ratos é que continuam abundantemente pelas vielas noturnas da cidade, especialmente em lugares onde faltam gatos ou em repartições públicas onde sobram gatunos.
Com o inverno se aproximando, começam as campanhas de agasalhos e cobertores. São necessárias. Mas sugiro que façamos também uma campanha para preservar a nossa fauna silvestre que foi obrigada pelo progresso a trocar as matas pelo asfalto. Brasília vai ganhar muito, em educação e saúde pública, se souber tratar bem seus saruês.
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