Bancos
Beto Seabra - 13/03/2023

Necessitamos deles, em casa ou nas ruas. Cabem muito bem em praças, jardins, terminais de transporte e especialmente dentro dos próprios meios de transporte. Afinal, se não estamos caminhando e quando cansamos de ficar em pé, a melhor coisa é sentar-se.
Mas tem gente que acha um luxo o simples ato de sentar. Certa vez criei uma birra com os moradores de um prédio onde morei, pois na assembleia de condôminos decidiram não colocar bancos nos pilotis do bloco de apartamentos e nem mesmo nos jardins. O argumento odioso que venceu por maioria durante a reunião era de que “somente as empregadas domésticas e os porteiros iriam usar aqueles bancos". Voltei anos depois ao local, de onde me mudei assim que pude, e notei que o bloco continua sem lugar para as pessoas se sentarem.
Sabemos também de prefeitos que criaram barreiras em bancos de praças e parques para que moradores de rua não usem os lugares para se deitar (se tá com sono, vire-se!), e até de administradores que simplesmente arrancaram os bancos dos espaços públicos, para evitar que os transeuntes parem em algum lugar. É a versão pedestre da velha ordem policial: "circulando, circulando!".
Dias atrás vi uma cena de um banco muito bem utilizado, e em um lugar onde eu nunca havia reparado que havia um, mesmo ficando no meio do caminho por onde sempre passo. É um banco solitário, no meio do nada, debaixo de umas árvores que sombreiam uma quadra comercial da cidade (a foto acima é exatamente desse banco).
Uma mulher que passava e que aparentava estar bastante cansada - mesmo não parecendo ser uma moradora de rua, diria que era alguém que esteve o dia inteiro caminhando atrás de um emprego - sentou-se com gosto no banco de cimento (cheguei a ouvir um suspiro de alívio saindo dos pulmões dela). E como podemos ver na foto, é um banco simples, sem encosto e sem braços, suficiente apenas para receber as pernas e a coluna, cansados de carregar o esqueleto para lá e para cá.
Onde ela sentaria se não houvesse um banco ali? No café da esquina, que cobra seis reais por uma garrafinha de água mineral? Não creio. No meio-fio da calçada, correndo o risco de ser atropelada por um dos carros que passam velozmente por ali? Talvez em alguma igreja que estivesse aberta àquela hora? Sim, as igrejas sempre foram lugares franqueados, e talvez por isso muitas delas estejam tão bem de saúde financeira. Se a cidade não oferece conforto aos cidadãos, deixe que as igrejas (e os shoppings) façam isso por ela. É a privatização do direito natural de sentar-se!
Uma cidade para merecer esse nome - a palavra vem do latim e significa reunião de cidadãos - deve prover espaços públicos para as pessoas passearem e, quando cansadas, poderem sentar-se. Banco não é luxo, é direito.
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