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A orquestra do Titanic vai mudar de ritmo

Mauro Lando - 29/04/2021



"Nações que trabalham juntas para investir em uma economia mais limpa colherão as recompensas para seus cidadãos".


Sábias palavras do presidente Biden na abertura de sua pré-conferência virtual sobre mudanças climáticas da semana passada, uma espécie de “trailer” da grande, que vai ser em Glasgow em Novembro.


Nada de novo. Todo mundo está de acordo em:


- limitar as emissões

- transição para energias renováveis

- incentivar as pesquisas sobre o já famoso CCS – carbono capture & storage, captura e armazenamento de carbono.


Belas intenções. Todo mundo virou santo, até mesmo um certo chefe de estado e seu secretário “passa-boiada”. Agora passando à velha, mas sempre atual fábula de La Fontaine: tudo bem, mas quem vai amarar o sininho na coleira do gato?


Quem vai parar de desmatar? Quem vai reflorestar o que já foi desmatado? E como vão fazer a Polônia,Turquia, Austrália e Japão para diminuir suas emissões se a única fonte de energia que possuem é o carvão? E nos próprios EUA, como enfrentar as petrolíferas e seus super-bem-pagos lobistas, sempre querendo provar que deixaram de pecar, que viraram bons meninos, até puseram no seu site uma foto de um sujeito de capacete amarelo plantando uma plantinha?


Antigamente o argumento era que as renováveis, sobretudo eólica e fotovoltaica “eram demasiado caras”. Mas como bem argumenta Michael Mann, um dos mais prestigiosos cientistas de mudanças climáticas, em seu livro “Climate Wars”, demasiado caras comparado com o quê? E se formos fatorar na equação do preço da energia o sempre falado e nunca executado “Carbon tax” – o imposto sobre o carbono? E se formos fatorar os bilhões de dólares de prejuízos apenas na costa leste dos EUA com os tornados cada vez mais frequentes e mais avassaladores? E o aumento de doenças do aparelho respiratório e consequentes custos para os sistemas de saúde, sejam do governo ou privados, nas cidades com ar super-poluído, como Los Angeles, México ou São Paulo?


Mas já há piores noticias para a poderosa turma dos fósseis: segundo o IRENA, Agencia Internacional para as Energias Renováveis, na maioria dos países os novos projetos de geração solar e eólica darão uma energia mais barata do que a fornecida pelas mais baratas usinas a carvão.


Veja a ilustração abaixo: são dados dos EUA. O custo da geração fóssil não aparece, mas é em média U$ 0.05 a U$ 0.17/kwh – veja no gráfico que todas as renováveis já estão nessa faixa e com tendência a queda.



PV – fotovoltaica; CSP solar concentradora (espelhos) ; Onshore Wind: eólica em terra; Ofshore Wind – Eólica offshore



Mas então as tais mudanças climáticas... tem jeito? Se a humanidade conseguir se ater ao objetivo de subir apenas 1,5ºC o que vai acontecer?


É difícil dizer ao publico que não tem volta. Quem vai explicar que a equação do aquecimento global é exponencial? Que a cada aumento de 10ppm de CO2 na atmosfera não corresponde um aumento linear de p.ex. 0,1ºC. Não é bem assim. Há um expoente nessa equação, por isso se chama exponencial.


O que se pode fazer então? A CNN fez recentemente um painel com o citado Michael Mann e outro cientista de clima, Gavin Schmidt, climatologista, modelador de clima e diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, em Nova York, co-fundador do premiado blog de ciências climáticas, recém nomeado conselheiro sênior para o clima na NASA. O jornalista entrevistador, Bill Weir perguntou exatamente isso: O que podemos fazer? Resposta: mitigação, adaptação ou sofrer. Todo o esforço de captura de carbono, de transição para energias renováveis, de combater o desflorestamento, tudo isso somado é apenas uma gota no oceano.


A longo prazo estamos f... quero dizer ferrados. Todo o esforço somado só vai conseguir atrasar um pouco a extinção da maioria das espécies – talvez levando junto aquela espécie de bípedes responsáveis pela tragédia. A humanidade é um Titanic de sete bilhões de pessoas, tentando diminuir a velocidade da nave para diminuir o impacto. Enquanto isso se pede à orquestra que toque algo mais animado, para distrair os passageiros.

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