Amor aos livros
Roberto Seabra - 28/11/2018
Citando Cartola, aconteceu nos tempos idos, nunca esquecidos. Eu devia ter uns 12 anos, aquela idade mítica cantada pelos poetas. Era meu aniversário e minha mãe fez uma festa para os amigos do bloco em que morávamos. Cachorro quente, refrigerante e brigadeiro, o trio infalível, para alimentar a horda de pestinhas.
Me recordo com especial carinho de um presente que ganhei naquele dia: um livro. Nossa vizinha de corredor e mãe de um dos meus melhores amigos me entregou um objeto que eu já conhecia bastante, mas sempre como sendo dos outros, seja de adultos, seja da biblioteca da escola. Eu mesmo não tinha nenhum livro que pudesse chamar de meu.
Tenho uma vaga lembrança sobre o título, que falava de um esquilo chamado Serelepe que viajava pela Amazônia, mas ao pesquisar sobre a história na internet descobri dezenas de livros parecidos, o que me levou a desistir de encontrar o livro em questão.
De qualquer forma, tenho uma viva lembrança daquele livro e do momento em que ele me foi dado. Talvez nenhum outro presente tenha ecoado por tanto tempo na minha memória. Não preciso dizer que lá se vão mais de 40 anos desde aquela tarde festiva de um novembro dos anos 1970.
Essa lembrança brotou novamente hoje quando li o artigo “Cartas de amor aos livros”, do editor Luiz Schwarcz, diretor da Companhia das Letras. No texto, ele faz um apelo emocionado em favor dos livros:
“Aos que, como eu, têm no afeto aos livros sua razão de viver, peço que espalhem mensagens; que espalhem o desejo de comprar livros neste final de ano, livros dos seus autores preferidos, de novos escritores que queiram descobrir, livros comprados em livrarias que sobrevivem heroicamente à crise, cumprindo com seus compromissos, e também nas livrarias que estão em dificuldades, mas que precisam de nossa ajuda para se reerguer.”
Sim, comprar livros tornou-se urgente. Mais que isso, tornou-se essencial para manter acesa a chama da nossa civilização. Além da crise econômica que o país atravessa, vivemos uma crise ética sem precedentes, onde as pessoas parecem desiludidas com tudo o que não forem mensagens das redes sociais e seriados de televisão.
Comprar e ler livros, presentear e receber livros, doar e recomendar livros. A leitura concentrada, e não aquela ligeira e fugidia do mundo virtual, é fundamental para nos mantermos de pé.
Dizem que na Alemanha do pós-guerra proliferaram clubes do livro, uma vez que muitas bibliotecas públicas e particulares haviam desaparecido. Para se refazer da catástrofe, o País contou com os livros.
O Brasil também precisa, mais do que nunca, dos livros. Nesse fim de ano, se você for comprar presentes, compre livros. Ajude as pequenas editoras, as livrarias (as grandes e as do seu bairro), os autores independentes, os sebos, enfim, não deixe o nosso mercado editorial morrer. O prejuízo será grande demais para a literatura e para a civilização brasileira, aliás, nome sugestivo de uma ex-grande editora que hoje faz parte de um conglomerado editorial, também em crise.