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A fome que a internet não sacia



Roberto Seabra - 19/01/2017


Tem um vídeo bastante compartilhado pela internet, do tipo “eu era feliz e não sabia”, que mostra uma série de produtos e situações de antigamente, que entraram em desuso ou que foram esquecidas nesse novo mundo da sofisticação e das facilidades tecnológicas. São brinquedos, guloseimas, eletrodomésticos, remédios, brincadeiras infantis e calçados de um tempo em que éramos mais pobres, mais simples e menos exigentes com tudo.

Tenho dúvidas se, de fato, éramos mais felizes, mas certamente sobrava mais tempo na vida. Passei por essa sensação recentemente ao visitar Cuba, uma país que, em vários aspectos, parou no tempo. Carros antigos, casas envelhecidas, internet limitada, ausência de propagandas nas ruas, mercados com pouca variedade de produtos, crianças nas ruas brincando de bola ou carrinho de rolimã. Me senti nos anos 80.

Mais tecnologia significa mais conforto, mas não necessariamente mais felicidade. O homem criou uma série de facilidades. Nos últimos vinte anos então a coisa se acelerou de tal maneira que ficou impossível prever como será o mundo daqui a cinco anos.

As novas tecnologias de comunicação democratizaram o conhecimento, mas tornaram mais árdua a busca pela sabedoria. É como se, ao facilitar o acesso às informações, a internet tivesse também dificultado a capacidade de processá-la.

Faço um paralelo com a alimentação. Apesar da miséria e da fome que ainda pairam no mundo, é notório que hoje temos mais pessoas obesas do que subnutridas. A revolução tecnológica no campo permitiu produzir mais alimentos, mas não preparou a cabeça do homem para se alimentar melhor. Ou seja, hoje comemos mais, mas também comemos pior.

Aconteceu algo parecido com a tecnologia. A internet nos permitiu saber mais coisas, ter mais informações ao alcance dos dedos, mas nossa cabeça não está preparada para tantas novidades. Resultado: estamos obesos de conhecimento e subnutridos em sapiência, aquela sabedoria que nossos avôs e bisavôs tinham de sobra.

Qual a saída? Não sei. Talvez ninguém saiba. Mas o filósofo Zygmunt Bauman, que morreu recentemente aos 91 anos, escreveu em seu livro Babel – entre a incerteza e a esperança, que ele divide com o jornalista italiano Ezio Mauro, algo que pode nos ajudar a encontrar um caminho: “A gente não se desobriga só porque percebe o quanto a tarefa é difícil. Ao contrário, ver a dificuldade da tarefa é o começo do nosso trabalho, não o fim”.

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