O sistema duodecimal e o Iraque

Beto Seabra - 16/02/2023

“A senhora aceita uma dúzia de bananas? ”. A pergunta foi ouvida em uma feira de orgânicos da Asa Norte e chamou a atenção deste cronista. A frase entrou em desuso, mas era muito comum antes que as normas do consumidor obrigassem os feirantes e mercados a venderem seus produtos apenas pelo peso. O dono da banquinha ofereceu as bananas à cliente, que procurava um pé de alface. “Nossa, há quanto tempo não compro bananas em dúzia”, disse ela. “É que a minha balança parou de funcionar”, explicou o feirante.

Aquela volta repentina da dúzia me fez lembrar da feirinha que existia ao lado do bloco de apartamentos onde cresci em Brasília. Não me lembro de ter visto balança por ali. Tudo era vendido em dúzias: tomates, maçãs, laranjas e, claro, as bananas.

E o melhor, para nós crianças, é que ao final da feira sempre sobravam frutas que não podiam ser vendidas, pois não completavam uma dúzia ou nem mesmo meia dúzia. Estas eram distribuídas entre a criançada famélica, que em retribuição ajudava o feirante a carregar as caixas dos hortifrútis de volta para sua velha Kombi.

A história da dúzia como medida de quantidade é interessante. Muita gente não sabe, mas a dúzia surgiu há milhares de anos entre os sumérios e teve como modelo a mão do homem, ou da mulher, pois não se sabe quem a criou. É simples saber porque. Mire uma de suas mãos e conte com a ponta do polegar as falanges dos outros quatro dedos. Ao final, serão doze, ou uma dúzia, pois cada dedo, com exceção do polegar, é dividido em três. São as popularmente chamadas falange, falanginha e falangeta.

Imagino uma pessoa nos mercados primordiais usando os dedos de uma mão para contar a dúzia, enquanto com a outra separava as porções: 1,2,3...4,5,6...7,8,9...10,11,12. E cada dedo da outra mão marcava a quantidade de dúzias, que poderiam ir até 5, ou 60 unidades no total. Esse sistema duodecimal é um dos mais antigos da humanidade e continua sendo utilizado até hoje em um monte de coisas. Pode reparar no mercado: dúzia de ovos, de latinhas de cerveja, de caixas de iogurtes, etc. Até as flores, em geral, são contadas em dúzia, ou meia dúzia. Vejam que interessante. Tradição ou praticidade? Talvez as duas coisas.

O sistema também é usado na contagem do tempo. Cada minuto tem 60 segundos, cada hora tem 60 minutos e o dia tem 24 horas, que é múltiplo de 12. E o relógio, como não poderia deixar de ser, tem em seu mostrador os números de 1 a 12, o que corresponde à metade do dia. E o ano também: são doze meses, ou uma dúzia. Isso tudo porque são doze os ciclos lunares durante um ano solar, o que levou alguns estudiosos a imaginarem que o sistema duodecimal surgiu da observação da natureza.

Talvez por isso sejam 12 os apóstolos de Jesus e também 12 os trabalhos de Hércules? Quem sabe...

Não é interessante o que os sumérios fizeram?

Foram eles também que criaram a escrita cuneiforme, que era feita em tabletes de argila. Os sumérios viveram na região da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, onde hoje é o Iraque. Nos dias atuais, só ouvimos falar desse país quando há guerra ou atentado terrorista naquela região. Mas um povo que criou tantas coisas importantes, deveria ser conhecido de outras formas, concorda?