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Carnaval


Roberto Seabra - 23/02/2020


Eu tenho inveja das pessoas que caem na folia. Sim, inveja. De onde tiram tanta alegria? Como conseguem esquecer todas as nossas agruras e mazelas e cair de corpo e alma em uma festa que arrasta milhões, sob o sol e sob a chuva, seja em salões fechados ou ruas coloridas? Como conseguem? Também já dei lá meus pulinhos, mas confesso que hoje me faltam razões para brincar o Carnaval.

Mas do que estou falando... E lá Carnaval é algo racional? É uma energia coletiva que age por impulsos e desejos. Alguém poderia dizer que a televisão e os demais meios de comunicação fazem a parte deles, falando sobre e mostrando a folia dia e noite, empurrando as pessoas para essa gandaia nacional. Em parte, é verdade. A mídia ganha com isso. Mas existe uma força muito além do puro interesse comercial.

Soube que em Recife criaram o bloco “Me Segura Senão Eu Caio”, formado por pessoas com deficiência. A ideia é incluir no Carnaval gente com alguma limitação de mobilidade, mas também atrair para o bloco as pessoas ditas “normais”, que dessa forma poderiam se divertir e ao mesmo tempo conhecer a realidade dessas pessoas diferentes. Achei a ideia genial, a começar pelo nome do bloco, nem um pouco politicamente correto.

Um amigo que mora no Canadá, perguntado pela mãe sobre o Carnaval lá, disse: “o Canadá é um país sério. Aqui não temos Carnaval.” É isso. Apesar de certo tom moralista, ele tem razão. O Carnaval não combina com seriedade. É preciso não ser sério para gostar de Carnaval. Pelo menos uma vez por ano. Passada essa fase, tudo volta ao normal. O problema é que não volta. Continuamos não sendo sérios em muita coisa. Continuamos levando a vida na brincadeira e fazendo sacanagem com tudo. Ô povo louco!

Tenho para mim que o Carnaval é resultado de alguma química secreta, que se criou pela mistura das nossas raças. O Entrudo português encontrou aqui as danças e festas indígenas, que se juntaram ao ritmo e à música dos africanos, e disso resultou uma grande festa profana, em contraponto às dezenas de festas sagradas que se realizavam e ainda se realizam nesse Brasil de todos os santos.

Nem mesmo os quase 400 anos de escravidão – negra e indígena – conseguiram impedir que essa química se colocasse acima das nossas diferenças. Sim, o Brasil não é racista durante o Carnaval, é preciso reconhecer isso. E nos outros 361 dias, o que somos?

Foto de Camila Leão/PCR

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