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Dia das crianças


Roberto Seabra - 10/10/2017


O Dia das Crianças se aproxima, data também em que se comemora Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Não vou entrar na discussão se uma nação laica deve ou não ter uma padroeira. Defendo a laicidade do Estado, mas também acho que a religiosidade do nosso povo deve ser respeitada, sem contar que toda festa religiosa tradicional é também cultura. E para completar, mesmo não me considerando um cristão muito ativo, tenho verdadeira adoração por Nossa Senhora. É uma coisa que não se explica. Nas vezes em que precisei dela, ela me socorreu. E uma questão de gratidão. E detesto ingratidões, de qualquer natureza.

Feita a ressalva, eu quero mesmo é falar das crianças. Gosto dessa ideia de colocar fotos da infância nas redes sociais. Milhares de pessoas estão revirando arquivos, escaneando retratos que ameaçavam virar pó, pedindo para as mães aquela fotografia perdida e criando um verdadeiro álbum mundial da infância. Muito melhor isso do que o lixo que se publica diariamente na internet. Muitos não gostam de ver essa profusão de rostinhos antigos na rede. Entendo. Alguns criticam por recalque, outros por falta de paciência com as coisas. Somos assim o ser humano.

Mas o que gosto mesmo é comparar os rostos de ontem com os de hoje, e ver como as pessoas mudaram, ou não. E notei uma coisa. As pessoas que mudaram pouco, ou quase nada, são aquelas que ainda mantêm o espírito infantil intacto. Já as que mudaram muito, mas muito mesmo, podem estar certos: essas perderam alguma coisa no caminho. Envelheceram mais do que deveriam. Não as culpo. Viver é perigoso, já dizia Guimarães Rosa. E é muito difícil manter a jovialidade quando temos tantas coisas com que se preocupar.

Para isso também serve o Dia das Crianças: não apenas para comprar presentes e levar os pirralhos para passear, mas para que cada adulto possa tentar reencontrar a criança que continua dentro de cada um. A frase é banal e tem cheiro de livro de autoajuda. Mas vamos parar e pensar um pouco sobre isso? Nossa vida é formada por momentos. Nós somos hoje a soma de todas as nossas vivências. E a nossa infância foi, além de um período longo em nossas vidas, um momento fundamental, onde se formou nossa personalidade. Buscar o espírito infantil ou juvenil que perdemos lá atrás pode ser uma forma de nos reencontrarmos com nós mesmos.

Nesta semana da criança é quando também se festeja o aniversário de 14 anos do meu filho caçula. Lembro que há quatro anos, quando ele completou 10 anos, resolvi fazer uma surpresa e presenteá-lo com um cãozinho. Há muito conversávamos lá em casa se deveríamos ter ou não um cachorro. Vivemos em uma casa relativamente grande, com bastante espaço e jardim, mas animal doméstico é sempre trabalhoso, e já temos coisas demais para cuidar.

Relevei os problemas e decidi trazer um filhote de Fox paulistinha para ele. A presença do bichinho trouxe de imediato o espírito infantil para dentro de casa. Ficamos todos, criança, jovens e adultos, imbuídos em cuidar e brincar com o Bazé, esse é o nome dele. Dois anos depois chegou a Pagu, uma labrador chocolate linda, que ganhamos de presente. Na época pareceu um presente de grego (quem já teve labrador vai entender do que estou falando). Hoje, não conseguimos imaginar nossa casa sem a dupla.

Mas a verdade é que, com a chegada dos dois, esquecemos momentaneamente nossos problemas, relaxamos os cuidados com a casa e nos voltamos para eles. Viramos, todos, crianças, como se fossemos uma galerinha infantil, que tivesse que cuidar do cachorrinho da rua.

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